São Paulo – Vértebras de serpentes que viveram há 95 milhões de anos no Maranhão são os fósseis mais antigos desse tipo de réptil no País. A descoberta, feita por paleontólogos maranhenses, virou objeto de estudo na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Os cientistas esperam publicar, em breve, descrições minuciosas dos fósseis.
A paleontóloga Annie Schmaltz Hsiou acredita que as vértebras pertenceram a duas espécies da família Madtsoiidae, um galho seco da árvore evolutiva das serpentes que hoje não conta com representantes vivos.
Especialista em serpentes pré-históricas, Annie estava no doutorado quando Manuel Alfredo Araujo Medeiros lhe mostrou fotos de duas vértebras que havia encontrado na Falésia do Sismito, uma formação da Ilha do Cajual, a 30 quilômetros de São Luís (MA). Os dois cientistas participavam do 20.º Congresso Brasileiro de Paleontologia, em Búzios (RJ), há quatro anos.
Medeiros, um paleontólogo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tentava, sem sucesso, identificar o animal pré-histórico de onde vieram os dois ossos. A pesquisadora não teve dúvidas: eram serpentes. E manifestou grande interesse pelo material que hoje está no Laboratório de Paleontologia da USP de Ribeirão Preto, onde Annie pesquisa e leciona.
Ela evita especular sobre características e hábitos de animais que deixaram vestígios tão tênues da sua existência. Mas considera provável que, como muitas serpentes latino-americanas atuais, vivessem próximas a cursos d’água. “Deviam ser parecidas com jiboias, mas menores e mais finas”, pondera.
No lugar onde os fósseis foram achados existia, há 95 milhões de anos, um estuário – ponto de encontro entre o rio e o mar. Provavelmente, a corrente trazia do continente ossos de animais que eram despejados à margem do fluxo e soterrados. Muitos sedimentos se depositaram sobre o cemitério de animais pré-históricos, formando uma falésia de arenito que hoje recebe os choques do mar.
Quando a maré baixa – e, no Maranhão, ela pode variar até 7 metros -, os cientistas visitam o local e cavoucam a camada de 10 centímetros do paredão onde os fósseis ficaram depositados. A maioria está muito fragmentada, mas bastam 10 minutos para achar alguma coisa: dentes, escamas, vértebras… “Já achamos 10 mil fósseis neste sítio”, afirma Medeiros. “Mas faltam pesquisadores para analisar com cuidado as descobertas.”
Annie tem vontade de voltar ao local para procurar mais pistas sobre as serpentes. “É o único lugar do Brasil com registros de fauna terrestre do Cenomaniano (entre 93,5 e 99,6 milhões de anos atrás)”, afirma a paleontóloga, recordando que os fósseis apresentam grande analogia com a fauna pré-histórica da África. “Quando esses animais ainda viviam, os continentes tinham acabado de se separar: a África estava a menos de 600 quilômetros da costa.”
Fonte: Folha de SP
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