Martha Medeiros |
De
ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo
chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o
conteúdo.
Mas onde se esconde?
Dentro
das pessoas. De algumas delas.
Fico
me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já
parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma
educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem
conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso
ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz
parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos
filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local
decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito
suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida
de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de
nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser
humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam,
aliás.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Isso
me fez lembrar de um livro excelente chamado “A Elegância do Ouriço”, de Muriel
Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de
Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era
mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que
servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição,
oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado
de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu
papel.
A personagem não só tinha uma
mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus
“superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.
A economia do Brasil vai bem,
dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.
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