William
Bonner: Nesta edição especial do Jornal Nacional, nós temos a presença do
38º presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro.
Presidente, muito boa noite.
Jair
Bolsonaro: Boa noite, Bonner. Boa noite, Renata.
William
Bonner: Primeiro, parabéns por essa vitória ampla nas urnas. Muito
obrigado, desde já, por abrir as portas da sua casa para o Jornal Nacional
nesta noite tão especial, de um dia certamente que foi muito atribulado, tem
sido para o senhor. Nós já sabemos que, em primeiro lugar, o senhor deseja
agradecer aos eleitores brasileiros e é muito justo. Por favor…
Jair
Bolsonaro: Eu quero agradecer a todos que votaram em
mim, pelo apoio e pela confiança. Agradecer pelas orações também. Afinal de
contas, ao longo de quatro anos, não só durante a pré-campanha bem como a
campanha, nós tivemos uma bandeira baseado numa passagem bíblica: João 8:32
‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Está na hora do Brasil
conviver com a verdade. Então, agradeço esses que acreditaram na verdade e confiaram
no meu nome nas urnas.
William
Bonner: Presidente, nesses poucos minutos, nós queremos aproveitar aqui a
sua disposição para acalmar os ânimos que andaram tão acirrados ao longo dessa
campanha. No primeiro dia depois do segundo turno, o senhor disse aqui no
Jornal Nacional que será um escravo da Constituição de 1988.
No último sábado (27), na
sua última aparição nas redes sociais antes da eleição, o senhor estava com um
exemplar da Constituição nas mãos e reiterou que todas as suas ações seguirão os
postulados da Constituição. No seu discurso da vitória de domingo (28), o
senhor disse que vai defender as liberdades e vai defender a democracia. Diante
disso tudo, o que é que o senhor diria a aqueles que ainda insistem em dizer
que a sua eleição é um risco para a democracia?
Jair
Bolsonaro: Primeiro, dizer que as eleições acabaram.
Chega de mentira, chega de fake news. Realmente, agora estamos numa outra
época. Eu quero governar para todos, como você bem disse, no Brasil. Não apenas
para os que votaram em mim. Temos uma Constituição que tem que ser realmente a
nossa bíblia aqui na Terra. E respeitá-la, porque só dessa maneira podemos
conviver em harmonia.
Renata
Vasconcellos: Presidente, boa noite. Durante a campanha, o
senhor já teve a oportunidade de se desculpar por palavras mais fortes que usou
em sua pregação sobre um projeto polêmico de educação sexual nas escolas. O
senhor chegou até a pedir desculpas aqui no Jornal Nacional por ter se excedido
no calor das discussões.
Numa outra ocasião, o senhor
disse enfaticamente, não ter nada contra os gays. Depois disse que vai lutar
contra aqueles que querem dividir o Brasil entre homos e héteros, entre brancos
e negros, entre sulistas e nordestinos. Há relatos concretos sobre pessoas que
têm agredido gays - verbal e fisicamente. Na campanha, o senhor repudiou o voto
dos que usam violência. Como presidente eleito, o que o senhor diria para
aqueles que ousem ser preconceituosos e agressivos contra outro ser humano
apenas por serem gays?
Jair
Bolsonaro: A agressão contra um semelhante tem que ser
punida na forma da lei. E se for por um motivo como esse, tem que ter sua pena
agravada. Agora, deixo bem claro: eu ganhei o rótulo, por muito tempo, de
homofóbico. Na verdade, eu fui contra a um kit feito pelo então ministro da
Educação, Haddad, em 2009 para 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de
livros, cartazes e filmes onde passariam crianças se acariciando e meninos se
beijando. Não poderia concordar com isso, e a forma como eu ataquei essa
questão é que foi um tanto quanto agressiva, porque eu achava que aquele
momento merecia isso. Bem, tivemos, em parte, sucesso, porque no ano seguinte,
a própria presidente Dilma Rousseff, depois de ouvir as bancadas evangélica e
católica, resolveu recolher esse material. Mas o rótulo ficou em cima de mim. E
deixo bem claro que isso tudo aconteceu por ocasião, acredite, do 9º Seminário
LGBT Infantil na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, onde presentes estavam
o então secretário de alfabetização do MEC, André Lazaro, e os senhores podem
pegar as imagens no YouTube, onde ele dizia claramente que passou três meses
discutindo até onde a língua da menina entraria na boca de outra menina para
fazer o filme “Beijo lésbico” para combater a homofobia. Então, acredito que
essa agressão contra a família e contra a inocência das crianças em sala de
aula é que resultou na minha forma, um tanto quanto violenta, concordo, para
tentar demover o ministério dessas cartilhas, desses filmes e desses cartazes.
William
Bonner: Presidente, o senhor sempre se declara, enfaticamente, aliás, um
defensor da liberdade de imprensa. Mas, em alguns momentos da campanha, o
senhor chegou a desejar que um jornal deixasse de existir. É indiscutível que a
imprensa não é imune a erros e nem a críticas. E isso vale para qualquer órgão
da imprensa profissional. Mas também é fato que a imprensa livre é um pilar da
democracia. Como presidente eleito, o senhor vai continuar defendendo a
liberdade da imprensa e a liberdade do cidadão de escolher o que ele quiser
ler, o que ele quiser ver e ouvir?
Jair
Bolsonaro: Totalmente favorável a liberdade de imprensa.
Temos a questão da propaganda oficial do governo que é uma outra coisa, mas
aproveito o momento para que nós realmente venhamos fazer justiça aqui no
Brasil. Tem uma senhora de nome Walderice, minha funcionária, que trabalhava na
Vila Histórica de Mambucaba e tinha uma lojinha de açaí. O jornal Folha de S.
Paulo foi lá, nesse dia, 10 de janeiro, e fez uma matéria e a rotulou de forma
injusta como ‘fantasma’. É uma senhora, mulher, negra e pobre. Só que nesse dia
10 de janeiro, segundo boletim ‘A iniciativa da Câmara’, de 19 de dezembro, ela
estava de férias. Então, ações como essa por parte de uma imprensa, que mesmo
te mostrando a injustiça que cometeu com uma senhora, ao não voltar atrás,
logicamente que eu não posso considerar essa imprensa digna. Não quero que ela
acabe, mas no que depender de mim, na propaganda oficial do governo, imprensa
que se comportar dessa maneira, mentindo descaradamente, não terá apoio do
governo federal”.
William
Bonner: Então o senhor não quer que esse jornal acabe? O senhor está
deixando isso claro agora?
Jair
Bolsonaro: Por si só esse jornal se acabou. Não tem
prestígio mais nenhum. Quase todas as fake news que se voltaram contra mim
partiram da Folha de S. Paulo. Inclusive a última matéria, onde eu teria
contratado empresas fora do Brasil, via empresários aqui para espalhar mentiras
sobre o PT. Uma grande mentira, mais um fake news do jornal Folha de S. Paulo,
lamentavelmente.
William
Bonner: Presidente, me permita, como editor-chefe do Jornal Nacional, eu
tenho um testemunho a fazer. Às vezes, eu mesmo achei que críticas que o jornal
Folha de S. Paulo tenha feito ao Jornal Nacional me pareceram injustas. Isso
aconteceu algumas vezes. Mas para ser justo, do lado de cá, eu preciso dizer
que o jornal sempre nos abriu a possibilidade de apresentar a nossa
discordância, de apresentar os nossos argumentos, aquilo que nós entendíamos
ser a verdade. A Folha é um jornal sério, é um jornal que cumpre um papel
importantíssimo na democracia brasileira, é um papel que a imprensa
profissional brasileira desempenha e a Folha faz parte desse grupo, da imprensa
profissional brasileira. Mas a gente pode seguir adiante com a próxima pergunta
da Renata, por favor.
Renata
Vasconcellos: Presidente, no discurso em que o senhor fez
essa mesma afirmação sobre a imprensa, o senhor disse que os marginais
vermelhos serão banidos da nossa pátria. O que o senhor quis dizer com isso?
Jair
Bolsonaro: Foi um discurso inflamado, com a Avenida
Paulista cheia, e logicamente eu estava me referindo à cúpula do PT e cúpula
também do PSOL. O próprio Boulos havia momentos antes dito que invadiria a
minha casa aqui na Barra da Tijuca por ela não ser produtiva. Vimos o candidato
do PT derrotado em vídeo também dizendo que a crise no Brasil só acabaria
quando o Lula fosse eleito presidente. Então, foi um momento de desabafo, é um
discurso acalorado, mas não ofendi a honra de ninguém. O que eu quero dizer com
aquilo: no Brasil de Jair Bolsonaro, quem desrespeitar a lei sentirá o peso da
mesma contra a sua pessoa.
William
Bonner: Presidente, essa campanha foi muito polarizada, todo mundo sabe,
todo mundo notou. Às vezes até dentro de famílias houve brigas. O senhor
certamente tem conhecimento disso. No domingo (28), no seu discurso, o senhor,
muito corretamente, disse que será o presidente de todos os brasileiros. Para
conseguir seu objetivo de conciliação nacional, respeitadas as diferenças de
ideias, o que é que o senhor poderia dizer agora, neste momento aqui no JN,
para os que não votaram no senhor?
Jair
Bolsonaro: Quero dizer a todos vocês que não votaram em
mim, que nós estamos no mesmo barco. Se o Brasil não sair dessa crise ética,
moral e econômica, todos nós sofreremos as consequências do que se aproxima no
futuro. Nós queremos é junto, junto com vocês. Afinal de contas, nós temos
tudo, tudo para sermos uma grande nação. O que está faltando é a união de
todos, evitar as divisões. Essas divisões apareceram no governo anterior.
Nordestinos, sulistas, brancos e negros, ricos e pobres, homos e héteros. Isso
nós vamos evitar. Vamos tratar todos iguais. Eu apelo àqueles que não votaram
em mim: nos dê oportunidade agora de mostrar que realmente nós podemos fazer
uma política de modo que a felicidade se faça presente em nosso meio no futuro.
Renata
Vasconcellos: Presidente, uma última pergunta: o senhor
disse há pouco à Record e ao SBT que pensa em convidar o juiz Sérgio Moro ou
para o Ministério da Justiça ou para o Supremo Tribunal Federal. Qual dessas
duas funções o senhor prefere para ele?
Jair
Bolsonaro: Olha, o juiz Sérgio Moro é um símbolo aqui no
Brasil. Eu costumo dizer que é um homem que perdeu a sua liberdade no combate à
corrupção. Ele não pode mais ir à padaria sozinho ou ir passear com a sua
família no shopping, sem ter um enorme aparato de segurança ao seu lado. É um
homem que tem que ter seu trabalho reconhecido. Para mim, eu pretendo conversar
com ele brevemente, já foi feito essa sinalização positiva, pretendo convidá-lo
para o Ministério da Justiça ou, seria no futuro, abrindo uma vaga no Supremo
Tribunal Federal, na qual melhor ele achasse que ele poderia trabalhar para o
Brasil. É um homem que tem um passado exemplar no combate à corrupção. Em
qualquer uma dessas duas casas ele levaria avante essa sua proposta. E a
corrupção tem que ser banida aqui do Brasil, ninguém suporta mais conviver com
essa prática tão nefasta.
William
Bonner: Presidente Jair Messias Bolsonaro, mais uma vez, nossos parabéns
pelo seu desempenho nas urnas, pelos votos que o levaram ao Palácio do
Planalto. Muito obrigado por dedicar esse tempo aos eleitores brasileiros,
usando o Jornal Nacional para isso, e nós agradecemos, não apenas em nome do
JN, mas em nome de todos os eleitores. E em nome de todos eleitores, pode
acreditar desejamos ao senhor um excelente governo. O Brasil precisa disso.
Parabéns mais uma vez. Boa noite.
Jair
Bolsonaro: Bonner, Renata, boa noite, muito obrigado
pela oportunidade.
Fonte: G1
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