“O papa
não tinha nenhuma razão para vir ao Brasil, apoiar um golpista. Ele é muito
coerente com a opção que tem pelos pobres, pelos que sofrem violência e são
marginalizados. Por causa disso ele não quis visitar a Argentina de (Mauricio) Macri. Por essa
mesma razão ele não quis visitar o Brasil sob Temer.” A declaração é do frei e
teólogo Leonardo Boff, sobre a carta enviada pelo papa Francisco ao presidente
Michel Temer, recusando o convite para visitar o país para as celebrações dos
300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Embora
reconheça que a crise que o país enfrenta “não é de simples solução”, Francisco
enfatiza: "Porém não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo
nos mais pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam
ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções
fáceis e superficiais para crises que vão muito além da esfera meramente
financeira".
Para o
frei, o papa deixa claro de que lado está: “Ao lado das vítimas, dos que
sofrem, coisa que este governo está produzindo”. “Se ele viesse ao Brasil seria
legitimar esse estado de coisas, o que ele nunca faria. Ele foi coerente ao não
ir à Argentina e não vir ao Brasil. Enquanto houver formas duras, ditatoriais,
eu diria, de governo e de relação com o povo, o papa não dará seu apoio e não
visitará essas terras e esses países.”
Boff
lembra que, após a abertura do processo do impeachment, o papa Francisco
escreveu uma mensagem à então presidenta Dilma Rousseff, já afastada, na qual
demonstrou apoio. “O papa Francisco mandou uma carta à Dilma enquanto se fazia
o julgamento dela, apoiando-a pessoalmente porque ele a conhece. Eu vi isso,
estive com Dilma”, disse Boff à RBA.
Para
ele, considerado expoente da Teologia da Libertação e próximo a Francisco, com
atitudes como a recusa a vir ao Brasil governado por Michel Temer, o papa está
indiretamente dando um recado aos governos “que fazem políticas superficiais,
que trazem dificuldades e injustiça para os pobres, e reformas que se fazem com
alta velocidade e não atendem às necessidades do povo, são antipopulares e
anticonstitucionais”.
Apesar das enormes dificuldades pelas
quais passa o país, “não há dificuldade que não possa ser resolvida” – diz
Boff. “Já que os partidos estão corrompidos, com um vazio de lideranças, o
grande lugar da pressão é a rua e a praça, com manifestações, grupos de
discussão onde se discuta que Brasil nós queremos, que coisas principais
devemos fazer para incluir a grande maioria que está à margem, superar a chaga
da desigualdade, que é uma das piores do mundo”.
Apesar do pessimismo de
parte da população brasileira com os ataques a direitos pelo governo e suas
reformas, Leonardo Boff afirma acreditar que “esse caos, essa confusão que está
havendo, lentamente vai criar uma claridade para ver o caminho que devemos
seguir, um outro tipo de sociedade, de governo, que seja voltado para o povo,
que realize direitos e não apenas defenda privilégios”.
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