As filas em locais de votação nos Estados Unidos já
davam indicativo de que o comparecimento às urnas nas eleições americanas seria
recorde em 2020. Houve registro de filas de mais de 4
horas apenas para escolher entre Joe Biden e Donald Trump.
Segundo o cientista político Michael
McDonald, professor da Universidade da Flórida e especialista em eleições, a estimativa
de quase 67% dos eleitores em um país de voto
facultativo e do maior engajamento desde 1900.
São quatro os principais
motivos que explicam tanto comparecimento:
POLARIZAÇÃO POLÍTICAA eleição de 2016 foi um marco de negação
à política tradicional, coroando Trump como presidente mesmo sem qualquer
experiência política. A mesma tendência foi observada em eventos como o Brexit
meses antes e a própria eleição brasileira em 2018.
Quatro anos depois, Trump se vale de uma consolidação do discurso
de que não
pertence ao mainstream político e quer proteger o país das mãos da política
tradicional, além do que chama de
"socialismo" dos democratas.
A narrativa,
nem sempre baseada em fatos, foi a sustentação e agitação da base de
seguidores. Segundo o jornal "Washington Post", Trump mentiu mais de
22 mil vezes desde que assumiu o governo.
Na outra
ponta, Biden tenta emplacar uma imagem de pacificador. O candidato repetiu
inúmeras vezes que Trump aposta na divisão e que seria presidente para
"todos os americanos", não apenas para os democratas.
Mais do que o
desejo de união, entretanto, o estica-e-puxa acabou dando uma roupagem ao
pleito de disputa entre os pró-Trump e os anti-Trump.
Inclusive,
quem vota pela primeira vez, escolheu Biden na maioria das vezes, segundo boca
de urna do instituto Edison Research. São 66% dos novos eleitores
que preferem o democrata – ou se mobilizaram para derrotar Trump.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Os Estados Unidos são o país com o maior
número de contágio e mortes por Covid-19 em todo o mundo. O vírus contaminou mais de 9 milhões de cidadãos, e matou mais de 232 mil,
segundo a Universidade Johns Hopkins.
Opositores de Trump buscaram estampar nele a responsabilidade pelo descontrole da doença no país, enquanto apoiadores atribuíam a culpa aos governadores.
Trump foi o primeiro a recomendar o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, mesmo sem comprovação científica de que o medicamento era eficaz. Também sempre foi avesso ao uso de máscaras. Em diversos momentos, patrocinou um processo de fritura do principal epidemiologista dos EUA, o médico Anthony Fauci.
O episódio mais icônico, contudo, foi a revelação de que Trump tinha consciência da alta taxa de contágio e mortalidade do vírus em fevereiro, mas decidiu minimizar o problema publicamente. O presidente assumiu a decisão em entrevista ao jornalista Bob Woodward, em seu livro "Fúria".
Desde a revelação, Biden e os democratas insistiram que a condução da pandemia por parte do presidente foi "a pior do mundo". O candidato democrata prometeu ouvir cientistas e aumentar a testagem para combater o vírus.
No último debate presidencial, Trump disse que assumia "total responsabilidade" por ter escondido a informação do público, mas voltou a desviar-se de culpa. Atribuiu a disseminação do vírus à China. "Não é minha culpa que isso [o vírus] chegou aqui. Nem é culpa do Joe. É culpa da China", disse.
Boa parte dos eleitores idosos mudou de lado nessas eleições justamente pela insatisfação da atitude de Trump frente à pandemia.
Segundo o Edison Research, 17% dos eleitores consideraram a pandemia um motivo importante para votar e nada menos que 82% diz ter votado em Biden.
Na sondagem da rede CNN, 68% entendem o uso de máscaras como responsabilidade de saúde pública, o que contrasta com a posição de Trump.
BLACK LIVES MATTER
Ao longo do governo, o presidente foi
permissivo com movimentos supremacistas brancos e entusiasta de milícias
armamentistas. Assim, os movimentos sociais sempre lhe firmaram oposição.
Mas foi a morte de George Floyd, em maio, que reacendeu o ativismo contra Trump. Protestos em todo o país pediam mudança na postura policial contra negros, tratamento igualitário e o fim do racismo.
O movimento ganhou atenção também nos esportes e entre celebridades, com manifestações na liga de basquete americana, a NBA, e na Fórmula 1, com protestos do piloto Lewis Hamilton. Viola Davis, Michael B. Jordan, Ariana Grande e tantos outros se engajaram nas passeatas.
Esse foi um dos motores para que negros se motivassem a ir às urnas contra o presidente. Em especial nos Swing States, os estados pendulares na eleição, a atenção está voltada ao peso do votos do negros, que não se motivaram a votar em 2016, mas foram às urnas neste ano.
As minorias são importantes para Joe Biden. Segundo pesquisa do Edson Research, o democrata tem 87% das preferências de negros, ainda que representem apenas 12% do eleitorado. Latinos (66%) e asiáticos (63%) também preferem o candidato.
A desigualdade racial foi apontada por 20% dos eleitores como motivo para votar, e 91% prefere Biden.
Mas a performance de Trump entre minorias foi melhor que o esperado. O resultado na Flórida foi ampliado pelos latinos, em especial de origem cubana, que são avessos aos democratas. Além disso, a pesquisa mostra que a votação em Trump entre negros (11%), hispânicos (31%) e asiáticos (30%) aumentou em 3 pontos percentuais comparado a 2016.
ECONOMIA E EMPREGOS
Donald Trump vinha com bons resultados na
economia até o ano da eleição. O desemprego chegou a mínimas históricas, ainda
que os salários não tenham subido a contento.
Em fevereiro deste ano, a taxa de desemprego caiu para 3,5%, o menor nível em 50 anos.
A pandemia fez água nesse progresso em todo o mundo, e os Estados Unidos não escaparam. A economia sofreu uma contração recorde de 31,4% no segundo trimestre de 2020. A recuperação, contudo, também foi forte. O crescimento do terceiro trimestre foi de 33,1% em relação aos três meses anteriores, em dados anualizados.
Trump se vale de que houve uma recuperação em "V", mas o número de novos pedidos de auxílio-desemprego continua acima dos patamares pré-pandemia. Para analistas, isso eleva os temores de que a pandemia de Covid-19 esteja causando danos duradouros ao mercado de trabalho dos Estados Unidos.
Biden se aproveitou dos números na campanha, dizendo que Trump será o primeiro presidente da história recente a entregar mais desempregados do que tinha quando assumiu. Além disso, justifica que o progresso do governo republicano veio de presente da gestão Obama.
Pouco importa: dos 35% que apontaram a economia como motivo para votar, 82% prefere Trump, segundo o Edison Research.
A CNN indica, contudo, que 52% dos eleitores acredita ser mais importante conter a pandemia do que recuperar a economia (defendido por 42%). Visto que a atitude do presidente perante a emergência de saúde não é bem vista, esse pode ter sido mais um ponto favorável para Biden.
Fonte: G1
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