VEJA 4 MISTÉRIOS SOBRE A PANDEMIA DE NO PAÍS
O Brasil completa neste domingo (12/07)
quatro meses desde a primeira morte por Covid-19 oficialmente
registrada no país. De lá para cá, o NOVO
CORONAVÍRUS matou 71,5 mil pessoas, com média diária superior a 1 mil na última semana.
Nesses quatro meses, os brasileiros
aprenderam a conviver com medidas de proteção: evitar aglomerações, higienizar
bem as mãos e superfícies e, quando possível, permanecer em casa. A ciência
também vem aprendendo mais e mais ao avançar na busca por uma vacina ou por
tratamentos comprovadamente eficazes.
Ainda assim, há alguns mistérios sobre a pandemia
do NOVO CORONAVÍRUS no Brasil que ainda devem ser
esclarecidos ao longo do tempo, com pesquisas e Estudos.
QUANDO O VÍRUS REALMENTE
CHEGOU AO BRASIL?
Embora o primeiro registro oficial
tenha sido relatado em 26 de fevereiro em um paciente de São
Paulo proveniente na Itália, há a suspeita de que o novo coronavírus tenha
chegado antes disso. Porém, ainda não existe consenso de quando o vírus
começou a circular no Brasil. Afinal, nem sempre a doença se
manifesta nos infectados, e nem todos os casos foram reportados às autoridades
de saúde.
Ainda assim, os especialistas ouvidos pelo G1 duvidam
que o novo coronavírus tenha chegado ao Brasil muito antes da primeira
confirmação. Caso o vírus realmente circulasse no país desde novembro — como
sugeriu um estudo feito no esgoto de
Florianópolis — os hospitais brasileiros teriam percebido a
alta na demanda por atendimento já naquela época, o que não aconteceu.
"A
dinâmica da epidemia não fala muito sobre o vírus ter entrado muito antes. Em
princípio, a versão original é mais verossímil", aponta o médico Gerson
Salvador, especialista em infectologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Na
mesma linha, o professor Alexandre Barbosa, chefe de Infectologia na
Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira
de Infectologia, diz que outros fatores podem ter confundido as análises de
esgoto.
"Existem várias possibilidades [para o resultado], como a reação
ter apresentado um resultado cruzado com outros coronavírus que causam
resfriado comum ou outros vírus parecidos com o Sars-CoV-2 que não infectam
seres humanos", analisa Barbosa.
QUAL O NÚMERO REAL DE CASOS DE COVID-19?
De acordo com o consórcio de veículos de
imprensa, o número de casos confirmados de novo coronavírus no Brasil passava
de 1,8 milhão neste sábado (11) — o segundo mais alto em números absolutos,
atrás apenas dos Estados Unidos.
Os epidemiologistas, porém, são
unânimes: há subnotificação, ou seja, existem mais casos de Covid-19 desde o
início da pandemia no Brasil do que o oficialmente relatado. Tanto por
pacientes assintomáticos quanto por falta de testes. Por isso, não se sabe com clareza quantas pessoas o novo coronavírus
realmente infectou.
Segundo Alexandre Barbosa, mesmo se
todos os doentes fossem testados com os melhores testes disponíveis, haveria ao
menos de 30% a 40% pacientes infectados que não apresentaram sintoma. No caso
do Brasil, a situação é ainda mais grave porque não há testes para todos.
"E pior: o Brasil testa na maioria
das vezes com o tal 'teste rápido', que tem índice de falso negativo altíssimo
na primeira semana porque depende da presença de anticorpos", acrescenta
Barbosa, que estima número real de casos de 5 a 10 vezes a mais do
que o oficial.
O infectologista Gerson Salvador cita os
estudos feitos pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) — que faz
estimativas do real tamanho da doença a partir de testes aplicados em várias
partes do Brasil — e relembra que, no início, os casos mais notificados eram
justamente os mais sintomáticos.
"Agora tem havido mais
diagnósticos, com mais testes. Então, a proporção dos casos com muitos sintomas
deve ser menor", diz Salvador.
POR QUE O SURTO ESTÁ DIMINUINDO EM ALGUMAS CIDADES?
Monitoramento do G1 mostra
que em alguns estados como Acre, Amapá e Rio de Janeiro registram queda no
número médio de mortes diárias. Além das necessárias medidas de isolamento,
dizem os infectologistas, tudo indica que há menor número de pessoas
suscetíveis a se infectar pelo novo coronavírus. O real número de
suscetíveis, porém, ainda é objeto de estudos.
Em parte, isso é causado justamente
porque esses estados tiveram centenas de pessoas infectadas pelo patógeno e,
portanto, adquiriram imunidade — se ela é duradoura ou não, ainda não está
claro. O infectologista Gerson Salvador relembra que há estudos em andamento
sobre a imunidade da Covid-19 — inclusive sobre respostas imunológicas que vão
além dos anticorpos.
"A gente vê a sorologia e vê quem
tem anticorpo, mas hoje a gente estuda pessoas que não desenvolvem a doença por
que têm resposta imunológica celular", aponta Salvador.
O professor Alexandre Barbosa concorda,
mas reforça que os governos não devem esperar que todos os suscetíveis se
infectem como forma de debelar a doença.
"Não adianta expor todo mundo para
circular e se infectar porque aí você vai ter muitos óbitos", explica.
O BRASIL TERÁ CONDIÇÕES DE DEBELAR A PANDEMIA COM VACINA?
Os
infectologistas ouvidos pelo G1 dizem que, primeiro, é preciso saber se haverá vacina.
Embora dois testes estejam em andamento já na fase avançada no Brasil — uma da
Universidade de Oxford e outra de uma empresa chinesa — ainda não há nada
confirmado.
"Primeiro: será que essas vacinas
vão conseguir fazer anticorpos? Segundo: se elas fizerem anticorpos, eles serão
protetores e evitarão a doença? Terceiro: quanto tempo dura esses anticorpos?
Ninguém sabe. A gente tem que lembrar que a Covid-19 tem seis meses",
questiona Alexandre Barbosa, da Unesp.
Gerson Salvador, da USP, concorda: é preciso
esperar para saber se as vacinas testadas darão certo. Ele, no entanto, é
otimista quanto à capacidade do Brasil controlar a epidemia caso cheguemos a
uma vacina.
"Enquanto houver produção em escala
industrial, o Brasil tem condições, sim. O país tem um dos sistemas de
vacinação mais avançados do mundo", relembra Salvador.
Fonte: G1